sexta-feira, setembro 07, 2007

"Carta a Manuel" - António Nobre

"Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.
Mas não foi Anto, não fui eu que teve a culpa,
foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,
A cuja influência a minha alma não resiste.(...)
Contudo, em meio desta fútil coimbrice,
Que lindas coisas a lendária Coimbra encerra!
Que paisagem lunar que é a mais doce da terra!
Que extraodinárias e medievas raparigas!
E o rio? e as fontes? e as fogueiras? e as cantigas?
As cantigas! que encanto! uma diz-te respeito,
Manuel, é um sonho, é um beijo, é um amor-perfeito
onde o luar gelou:'Manuel! Tão lindas moças!
Manuel! Tão lindas são...'

Que pena que não ouças!

O que, ainda mais, nesta Coimbra de salgueiros
Me vale, são os meus alegres companheiros
De casa. Ao pé deles é sempre meio-dia:
para isso basta entrar o Mário de Anadia.
Até a morte é branca e a tristeza vermelha
E riem-se os rasgões desta batina velha!(...)
Vem a Coimbra. Hás-de gostar, sim, meu amigo.(...)
Manuel, vamos por aí fora
Lavar a alma, furtar beijos, colher flores
, por esses doces religiosos arredores(...)
Regresso a Coimbra só com o meu coração."

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